quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

A Arma Escarlate, de Renata Ventura


Como eu já disse milhares de vezes aqui no blog, cuidado é sempre pouco quando for criar uma história de fantasia. O autor tem que ter maturidade suficiente para levar seu mundo ao público sem exagero algum; e Renata Ventura consegue fazer isto baseando-se na grandiosa obra de Rowling: Harry Potter. Já entrando no assunto, vi alguns comentários rolando pelos fóruns da internet de pessoas que não leram o livro e o rotulam como uma cópia descarada da trama de Potter. Porém, o que apenas aqueles que leram as entrevistas de Renata Ventura ou o prefácio de seu livro A Arma Escarlate sabem é que a escritora sentiu-se no livre-arbítrio de criar uma escola de bruxaria brasileira quando leu uma entrevista de Rowling, que dizia que qualquer um poderia fazê-lo. Ventura é, antes de tudo, uma fã de Harry Potter, e, na verdade, faz de tudo para que suas criações se afastem ao máximo das de Rowling (porque aí sim entram em pauta os direitos autorais da autora britânica). 

E é aí que conhecemos a mente criativa de Renata. Nada de basiliscos, horcruxes, lordes das trevas ou animagos (embora haja inúmeras referências a Potter, como a morte de Dumbledore e dementadores, que ela chama de dementores). A escritora brasileira opta por Mula-Sem-Cabeça, Curupira, Candomblé (uma religião derivada da África com muitos seguidores no Brasil) e feitiços em línguas indígenas. Mas o melhor da obra é que ela não mostra apenas a beleza da Cidade Maravilhosa e a existência de uma escola de bruxaria escondida em baixo da estátua do Cristo Redentor. Renata Ventura também destaca todos os podres de nosso país. Como ela mesma diz, o jeitinho brasileiro, a malandragem; que também não poderiam faltar em uma escola tupiniquim - mesmo que esta trate de educar jovens bruxos. Há a injustiça (na forma do Conselho da escola), a violência (o protagonista vive na favela Santa Marta em 1997, quando ela ainda era chefiada pelos bandidos), a desorganização (os materias extraviados são uma ótima prova disso) e a diferença social (a versão do Saara para a sociedade bruxa é excelente!). Mas ainda assim, vemos um pequeno grupo de jovens, conhecidos como pixies, que vão contra todo esse sistema sem temer nada ou ninguém. Mas nada é tão genial em A Arma Escarlate quanto o tema das drogas - do tráfico ao vício. E o melhor é que Renata Ventura consegue encaixar esse tema tão delicado em um mundo fictício maestralmente.

Como se já não bastasse, há personagens cativantes (tenho certeza que irá se identificar com algum), uma trama cheia de reviravoltas e surpresas e um final que abre totalmente para uma sequência. A Arma Escarlate oferece uma leitura que te pega e não solta, com temas que nos fazem refletir. Uma releitura fiel ao Brasil em que vivemos, que merece uma continuação. Estou na espera, Renata.

Obs.: A Cafeteria da Esquina foi o primeiro blog a entrevistar a autora. Clique aqui para ler.



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